Manifesto pela volta dos refrigerantes ao imposto seletivo

Rio de Janeiro - 16/12/2024

Nós, especialistas e entidades listados abaixo, repudiamos a retirada dos refrigerantes do imposto seletivo na Reforma Tributária. Na contramão da proposta do governo, que já havia sido aprovada pela Câmara dos Deputados, o Senado Federal derrubou os refrigerantes desse imposto, destinado a desestimular o consumo de produtos nocivos à saúde.

Refrigerantes são bebidas adoçadas ultraprocessadas nocivas à saúde e ao meio ambiente, associadas a doenças como obesidade, diabetes, cáries, hipertensão, doenças renais crônicas e câncer. As doenças provocadas por refrigerantes e outras bebidas açucaradas impactam milhões de brasileiros: 2,2 milhões de adultos brasileiros estão com obesidade ou sobrepeso devido ao consumo destes produtos, e cerca de 721 mil crianças estão com excesso de peso pelo mesmo motivo. Por ano, são 13 mil mortes de adultos devido ao consumo de bebidas açucaradas, e o custo para o Sistema Único de Saúde é de R$3 bilhões de reais por ano.

Manifestamos particular preocupação com as crianças. Dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) lançados este ano mostram que crianças de 2 a 5 anos consomem diariamente 30,4% de suas calorias com alimentos ultraprocessados, número bem superior à média da população adulta, de 19,5%. Os dados revelam ainda que 24,5% de bebês entre 6 meses e 2 anos consomem bebidas adoçadas, enquanto este número chega a 50,3% nas crianças entre 2 e 5 anos.

A tributação mais alta de bebidas adoçadas é uma política pública de prevenção de doenças crônicas recomendada pela Organização Mundial de Saúde, Banco Mundial, Unicef, entre outras instituições internacionais. Seguindo esta orientação, mais de 97 países e regiões do mundo cobram imposto seletivo de bebidas adoçadas, como é o caso de Portugal, França, Reino Unido, México, Rússia, Índia, Chile, Colômbia, África do Sul, entre outros.

No Brasil, importantes conselhos de direitos e organizações da sociedade civil já se manifestaram pela implementação do imposto seletivo sobre refrigerantes e outras bebidas adoçadas, entre elas: Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), entre outras dezenas de organizações da sociedade civil, sociedades médicas e grupos de pesquisa.

Os refrigerantes, assim como o tabaco e o álcool, que já estão no imposto seletivo, devem retornar ao texto, de modo a garantir a proteção à saúde da população brasileira. Além dessa retirada, o Senado Federal incluiu no texto o artigo 437, que prevê desconto de até 25% do imposto seletivo para indústrias de produtos nocivos mediante ações de mitigação, descaracterizando absolutamente seu propósito, que é aumentar o preço final de produtos nocivos, e assim, desincentivar seu consumo.

Diante disso, é urgente e necessário que os deputados e deputadas modifiquem o texto do PLP 68/2024 que veio do Senado, retomando o imposto seletivo sobre refrigerantes, e suprimindo o artigo 437, que prevê desconto para indústrias de produtos nocivos.

Assim será possível restabelecer o princípio de uma reforma tributária saudável, que deixe um legado positivo para as futuras gerações, reduzindo o consumo de produtos nocivos, prevenindo doenças e salvando vidas.

 

ASSINAM ESTE MANIFESTO     

  1. Adriana Salay, historiadora
  2. Ana Claudia Latronico Xavier, professora da Faculdade de Medicina da USP
  3. Armínio Fraga, economista
  4. Bela Gil, chef de cozinha e apresentadora de TV
  5. Berenice Bilharinho de Mendonça, professora da Faculdade de Medicina da USP
  6. Bruno Halpern, presidente da ABESO e da World Obesity Federation
  7. Carlos Monteiro, epidemiologista e professor emérito da USP
  8. Daniel Becker, pediatra e sanitarista
  9. Eduardo Moreira, engenheiro e fundador do Instituto Conhecimento Liberta
  10. Elisabetta Recine, presidente do Consea, pesquisadora e professora
  11. Francisco Mata Machado Tavares, coordenador do Observatório Brasileiro do Sistema Tributário e professor da Faculdade de Direito da UFG
  12. Francisco Menezes, economista e ex-presidente do Consea
  13. Gabriela Kapim, nutricionista infantil e apresentadora de TV
  14. Germana Lyra Bähr, médica pediatra
  15. Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e professor
  16. Ilan Kow, diretor do Panelinha
  17. João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia, empresário e ativista
  18. José Agenor Álvares da Silva, ex-ministro da Saúde
  19. José Francisco Graziano da Silva, diretor do Instituto Fome Zero e ex diretor geral da FAO
  20. José Temporão, ex-ministro da Saúde, médico sanitarista e pesquisador na Fiocruz
  21. Ladislau Dowbor, economista, professor titular de pós-graduação na PUC/SP
  22. Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde e médico
  23. Luna Azevedo, nutricionista e palestrante
  24. Maria Auxiliadora Gomes, médica e pesquisadora do Instituto Fernandes Figueira/RJ
  25. Maria Emília Pacheco, ex-presidente do Consea
  26. Marcio Corrêa Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do HCFMUSP
  27. Mark Albrecht Essle, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Desiderata;
  28. Maria Edna de Melo, coordenadora da Liga de Obesidade Infantil do HCFMUSP
  29. Mônica de Bolle, economista, imunologista e pesquisadora
  30. Patrícia Jaime, nutricionista e coordenadora científica do Nupens/USP
  31. Paulo Betti, ator
  32. Renato Maluf, ex-presidente do Consea e professor da UFRRJ
  33. Ricardo Abramovay, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP
  34. Rita Lobo, chef de cozinha e apresentadora de TV
  35. Rodrigo Mocotó, chef de cozinha
  36. Rodrigo Spada, presidente FEBRAFITE e AFRAESP

E as entidades:

  1. ACT Promoção da Saúde
  2. Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (ACBG Brasil)
  3. Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD)
  4. Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE)
  5. Associação Brasileira de Nutrição (Asbran)
  6. Associação de Diabetes Juvenil (ADJ)
  7. Associação Internacional Maylê Sara Kali (AMSK Brasil)
  8. Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável
  9. Aliança Resíduo Zero Brasil
  10. Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)
  11. Associação Brasileira de Enfermagem Seção Minas Gerais (ABEn-MG)
  12. Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)
  13. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO)
  14. Associação Nacional de Fiscais de Tributos Estaduais (FEBRAFITE)
  15. Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
  16. Cátedra Josué de Castro
  17. Centro de Estudos, pesquisa e documentação em cidades saudáveis (CEPEDOC)
  18. Colansa – Comunidade de Práticas América Latina e Caribe Nutrição e Saúde,
  19. Conselho Federal de Nutrição (CFN)
  20. Conselho Regional de Nutrição 4° Região (CRN-4)
  21. Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Pernambuco (CONSEA-PE)
  22. FIAN Brasil
  23. Fórum Intersetorial de CCNTs no Brasil (FórumCCNTs)
  24. Fórum Estadual de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná (FESSAN-PR)
  25. Fundação Arayara
  26. Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS – UFMG)
  27. Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero
  28. Global Alliance for Incinerator Alternatives (GAIA)
  29. Global Center for Legal Innovation on Food Environments (O’Neill Institute for National and Global Health Law)
  30. Global Health Advocacy Incubator
  31. Grupo Direito e Políticas Públicas (GDPP- USP)
  32. GT Agenda 2030
  33. Ibirapitanga
  34. Instituto Alana
  35. Instituto Brasileiro de Defesa de Consumidores (Idec)
  36. Instituto Comida do Amanhã
  37. Instituto Comida e Cultura
  38. Instituto Cordial
  1. Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)
  2. Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)
  3. Instituto Desiderata
  4. Instituto Ethos
  5. Instituto Fome Zero
  6. Instituto Internacional Arayara
  7. Instituto Paz e Terra da Rede Amigos das Águas
  8. Instituto Sou da Paz
  9. Laboratório de Educação Alimentar e Nutricional da Universidade Federal de Sergipe (LEAN-UFS)
  10. Litigância Climática e Direitos (LITIGA)
  11. Movimento de Organização Comunitária (MOC)
  12. Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC)
  13. Movimento Urbano de Agroecologia MUDA
  14. Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições da Universidade Federal de Santa Catarina (NUPPRE-UFSC)
  15. Núcleo de Pesquisa em Prevenção ao Uso de Álcool e Outras Drogas (PREVINA- UNIFESP)
  16. Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP)
  17. Observatório Brasileiro de Conflitos de Interesse em Alimentação e Nutrição (ObservaCoI)
  18. Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares da Fiocruz
  19. Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio)
  20. Observatório de Cultura Alimentar e Direito Humano à Alimentação e Nutrição Adequadas (OCADHANA)
  21. Observatório de Obesidade da UERJ
  22. Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional da UnB (OPSAN-UNB)
  23. Oceana Brasil
  24. OXFAM Brasil
  25. Ponto de Cultura Alimentar Iacitata Amazônia Viva
  26. Programa de Pós-graduação em Gestão Pública e Sociedade da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)
  27. Projeto Hospitais Saudáveis
  28. Rede Fé, Paz e Clima
  29. Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN Brasil)
  30. Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)
  31. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)
  32. Sociedade Vegetariana Brasileira
  33. Toxisphera Associação de Saúde Ambiental
  34. Vital Strategies
  35. World Obesity Federation (WOF)

 

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