Espírito Santo - 25/02/2011
Nairóbi, 21 de fevereiro de 2011 – De acordo com o relatório lançado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - United Nations Environment Programme PNUMA, investir dois por cento do PIB mundial em dez setores estratégicos pode ser o pontapé inicial para a transição rumo à uma Economia Verde de baixo carbono e eficiência de recursos.
Apoiada por políticas nacionais e internacionais inovadoras, a soma, que atualmente correspondente a cerca de 1,3 trilhão de dólares por ano, fomentaria o crescimento da economia global a níveis provavelmente superiores aos dos atuais modelos econômicos.
O relatório sugere um modelo econômico que evitaria riscos, choques, escassez e crises cada vez mais inerentes na atual economia de alta emissão de carbono. Sendo assim, contesta os mitos de que investimentos ambientais vão contra o crescimento econômico, trazendo à tona a má alocação de capital.
O relatório mostra a Economia Verde como um tema relevante não apenas para as economias mais desenvolvidas, mas também como um catalisador-chave para o crescimento e erradicação da pobreza nas economias em desenvolvimento, nas quais, em alguns casos, cerca de 90% do PIB está ligado à natureza ou a recursos naturais tais como a água potável.
O relatório traz como exemplo resultados de políticas que redirecionam cerca de 1,3 trilhão de dólares por ano em investimentos verdes e por meio de dez setores estratégicos, o equivalente a aproximadamente 2% do PIB mundial. Em termos comparativos, esse montante equivale a 10% do investimento total anual em capital físico.
Atualmente, o mundo gasta entre 1% e 2% do PIB global em uma série de subsídios que, geralmente, prolongam a insustentabilidade do uso de recursos tais como combustíveis fósseis, agricultura, água e pesca.
Grande parte dessas ações contribui para intensificar os danos ambientais e ampliar a ineficiência na economia global. Diminuí-las ou eliminá-las poderia gerar múltiplos benefícios no processo de liberação de recursos para financiar uma transição rumo à Economia Verde.
Renda e emprego
Enquanto a transição global para a Economia Verde contribuiria para o desenvolvimento e para o aumento da renda per capita refletida nos atuais modelos econômicos, ela fomentaria, também, a redução da pegada ecológica em 50% até 2050.
O relatório Economia Verde afirma que, a curto prazo, a queda dos níveis de emprego em alguns setores como o da pesca será inevitável caso não ocorra a transição rumo à sustentabilidade.
O investimento, em alguns casos financiado pelo corte de subsídios nocivos, terá de se readaptar a alguns setores de força de trabalho global para assegurar uma transição justa e socialmente aceitável.
O relatório defende que, ao longo do tempo, o número de empregos "novos e decentes criados" - que vão desde o setor de energia renovável até o de agricultura sustentável – compensarão aqueles perdidos na antiga economia de alto carbono.
Ainda segundo o relatório, um investimento anual de cerca de 1,25% do PIB mundial em eficiência energética e energias renováveis poderia reduzir a demanda global por energia primária em 9% em 2020 e em 40% até 2050.
A economia de capital e de gastos com combustível na geração de energia, sob o cenário da Economia Verde, seria de 760 bilhões de dólares entre os anos de 2020 e 2050.
O relatório, intitulado Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza, também destaca as enormes oportunidades para desacoplar a geração de resíduos do crescimento do PIB, incluindo, em seu lugar, ações de recuperação e reciclagem.
O relatório, compilado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), em colaboração com economistas e especialistas de todo o mundo, tem como um dos seus objetivos a promoção e defesa dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU – que vão da redução pela metade das pessoas com fome à redução pela metade das pessoas sem acesso a água potável.
Outra meta abrangente é a diminuição das emissões de gases de efeito estufa para níveis muito mais seguros, de 450 partes por milhão até 2050.
As conclusões foram apresentadas hoje aos ministros do meio ambiente de mais de 100 países, na abertura do Fórum Global de Ministros do Meio Ambiente/Conselho de Administração do PNUMA.
O relatório, que compõe um estudo macroeconômico publicado online, visa a acelerar o desenvolvimento sustentável e integra a contribuição do PNUMA para as preparações para a conferência Rio+20 que se realizará no próximo ano no Brasil.
O relatório completo está disponível online a partir de hoje para comentários e para que países enviem novos exemplos de Economia Verde. A equipe da Iniciativa Economia Verde do PNUMA planeja apresentar o relatório em capitais de todo o mundo ao longo dos próximos meses.
A iniciativa pretende, ainda, identificar em primeira mão a melhor forma de ajudar os países e comunidades a iniciarem a transição para uma Economia Verde no contexto das suas circunstâncias nacionais.
Achim Steiner, Subsecretário Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA, disse: “O mundo está de novo a Caminho do Rio, mas em um planeta muito diferente daquele da Cúpula da Terra que se realizou no Rio de Janeiro em 1992.”
“A Rio 2012 surge em um contexto de rápida redução de recursos naturais e de alterações ambientais aceleradas – desde a perda de recifes de coral e florestas à crescente escassez de terra produtiva; desde a necessidade urgente de fornecer alimento e combustível às economias até os prováveis impactos das alterações climáticas descontroladas”, acrescentou.
“A Economia Verde, conforme documentado e ilustrado no relatório do PNUMA, proporciona uma avaliação centrada e pragmática de como os países, as comunidades e as empresas iniciaram uma transição para um padrão mais sustentável de consumo e produção. Está arraigada nos princípios de sustentabilidade acordados no Rio de Janeiro em 1992, ao mesmo tempo que reconhece que os sinais fundamentais que impelem as nossas economias devem evoluir em termos de políticas públicas e respostas dos mercados”, disse.
“Devemos avançar para além das polarizações do passado, entre desenvolvimento e meio ambiente, entre Estado e mercado e entre norte e sul”, declarou o senhor Steiner.
“Com 2,5 bilhões de pessoas vivendo com menos de dois dólares por dia e com um aumento populacional superior a dois bilhões de pessoas até 2050, é evidente que devemos continuar a desenvolver e a fazer crescer as nossas economias. No entanto, esse desenvolvimento não pode acontecer à custa dos próprios sistemas de apoio à vida na terra, dos oceanos e da atmosfera que sustentam as nossas economias e, por conseguinte, as vidas de todos nós”, acrescentou.
“Economia Verde é uma resposta à questão de como manter a pegada ecológica da humanidade dentro dos limites do planeta. Visa a relacionar as demandas ambientais para a mudança de rumo aos resultados econômicos e sociais – em particular, o desenvolvimento econômico, o emprego e a igualdade”, disse o senhor Steiner.
Pavan Sukhdev, Economista Sênior do Deutsche Bank e Diretor da Iniciativa Economia Verde do PNUMA, disse: “Os governos têm um papel central na mudança das leis e das políticas e no investimento de bens públicos para possibilitar a transição. Ao fazê-lo, podem também desbloquear os bilhões de dólares do capital privado em benefício de uma Economia Verde.”
“A aplicação inadequada de capital está no centro dos atuais dilemas do mundo e há medidas rápidas que podem ser tomadas, começando, literalmente, hoje – desde a diminuição e eliminação dos mais de 600 bilhões de dólares de subsídios globais para combustíveis fósseis ao reencaminhamento dos mais de 20 bilhões de dólares de subsídios inadequadamente atribuídos a entidades envolvidas em atividades de pesca insustentável”, disse.
“Uma Economia Verde não visa a sufocar o crescimento e a prosperidade, mas sim a restabelecer a ligação com a verdadeira riqueza, reinvestir ao invés de simplesmente explorar o capital natural e beneficiar muitos em lugar de poucos. Visa também a uma economia global que reconheça a responsabilidade intergeracional das nações para deixar um planeta saudável, funcional e produtivo aos jovens de hoje e aos que estão para nascer”, acrescentou o senhor Sukhdev.
Notas aos editores:
Conclusões Principais e Alguns Setores-Chave
O PNUMA define como economia verde “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, ao mesmo tempo que reduz significativamente os riscos ambientais e as carências ecológicas”.
Uma grande parte dessa transição envolve políticas e investimentos que desassociam o crescimento do atual consumo intensivo de materiais e energia.
Embora tenha havido alguma desassociação nos últimos 30 anos, os resultados têm sido modestos demais para colocar o planeta em uma rota sustentável e para conservar recursos finitos.
Papel Político dos Governos
Políticas públicas inovadoras e criativas serão vitais para gerar condições facilitadoras que, por sua vez, podem desbloquear os mercados e guiar os investimentos do setor privado no sentido de uma transição para a economia verde.
Entre elas, incluem-se:
As políticas públicas também podem assegurar que os benefícios de um setor mais ecológico desencadeiem benefícios de sustentabilidade mais amplos em outros setores.
Do setor pesqueiro ao imobiliário – Dez setores fundamentais para a Economia Verde
Os dez setores identificados no relatório como fundamentais para tornar a economia global mais verde são: agricultura, construção, abastecimento de energia, pesca, silvicultura, indústria, turismo, transportes, manejo de resíduos e água.
Dos 2% do PIB propostos no relatório, os montantes investidos para o esverdeamento por setor seriam:
Alguns destaques setoriais:
Agricultura
Uma Economia Verde investiria entre 100 e 300 bilhões de dólares por ano, até 2050, na agricultura, a fim de alimentar nove bilhões de pessoas e, ao mesmo tempo, promover uma melhor gestão da fertilidade dos solos e uma utilização sustentável da água para o aperfeiçoamento da gestão biológica de plantas.
Construção
O setor imobiliário é o que mais contribui para as emissão global de gases de efeito estufa, com um terço da utilização global de energia por escritórios e habitações.
O setor da construção é responsável por mais de um terço do consumo global de recursos, incluindo 12% do uso de água doce.
Com base no IPCC, estima-se que, caso a situação atual não se altere, a pegada climática do setor imobiliário vai duplicar para 15,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono até 2030 ou 30% do CO2 total relacionado à energia.
Pesca
Subsídios estimados em cerca de 27 bilhões de dólares por ano geraram uma capacidade de pesca duas vezes maior que a capacidade dos peixes de se reproduzirem.
O relatório sugere que o investimento na gestão fortalecida das pescas, incluindo a criação de áreas marinhas protegidas e a desativação e redução da capacidade das frotas, bem como treinamento, pode recuperar os recursos pesqueiros do planeta.
“Estima-se que o valor atual dos benefícios de tornar mais verde o setor pesqueiro seja de três a cinco vezes o investimento necessário”, diz o relatório.
Silvicultura
As florestas geram bens e serviços, que proporcionam os meios de subsistência econômica de mais de um bilhão de pessoas, reciclam nutrientes vitais para a agricultura e oferecem refúgio a 80% das espécies terrestres.
O desflorestamento é atualmente responsável por quase 20% das emissões mundiais de gases de efeito estufa.
“Por esse motivo, a redução do desflorestamento pode ser um bom investimento: por si só, o lucro proveniente da regulação climática consequente da redução pela metade do desflorestamento global seria três vezes maior que o custo”, diz o estudo.
O relatório analisa a contribuição que um investimento de 15 bilhões de dólares por ano – ou 0,03% do PIB global – pode significar para tornar mais verde este setor, incluindo o lançamento de maiores investimentos no mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD).
Tais investimentos também podem ajudar a aumentar a dimensão de mecanismos de mercado já testados, incluindo a madeira certificada, a certificação dos produtos da floresta tropical, o pagamento a favor dos ecossistemas e as parcerias baseadas nas comunidades.
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